27/09/2007

Cunhas, só nos sapatos



Sou com todas as minhas forças a favor da igualdade e da justiça.
Não por uma questão política, mas por respeito, e também por uma educação profundamente cristã, seriamente cristã, onde os conceitos são vividos na prática do dia a dia e não só lidos no catecismo.
Mesmo que na suposta condição social onde cresci se saiba que nem sempre é assim.
É utópico, ingénuo, quimérico, até acriançado, mas eu acho que o mundo devia ser justo por natureza.
E ainda estranho quando não é.
E ainda me revolto quando isso não acontece.
E também me espanta que os outros se espantem com as minhas convicções, que me prejudicam quase sempre, e não fazem de mim melhor pessoa.
Para mim é evidente que tenho que esperar duas horas como os outros na fila do hospital, e que não é diferente só por a minha prima ser a médica de serviço.
Para mim é claro que tenho que esperar meia hora na fila da catequese como os outros e que não é por ser catequista que posso passar à frente – pelo contrário.
Para mim é lógico não precisar de cunhas para o meu filho ficar numa boa turma, com um bom horário, porque na dita lógica da escola, ele precisa e merece-o.
E as bocas abriram-se de espanto ao perceber que eu não tinha metido cunhas, e a minha boca abriu-se ainda mais ao perceber que só com cunhas é que isso acontecia.
E todos olharam para mim pasmados como se eu fizesse parte de um grupo político estranho, onde todas as pessoas acham que são iguais e se tratam por tu e por pá.
As pessoas são diferentes sim, no seu intimo, nos seus valores, no seu desempenho.
O que não equivale a passar por cima dos outros.
O que não é igual a prejudicar alguém em privilégio próprio.
O que não lhes dá o direito, nunca, de não respeitar o próximo, porque é isso mesmo que nos torna diferentes, é o nosso respeito ao próximo.
E quase que peço desculpa, mas não compreendo quando assim não é.

5 comentários:

Célia disse...

Leonor, seria óptimo se todas as pessoas pensassem como tu. Mas o problema é que este tipo de coisas só é praticado pela minoria.

Eu trabalho numa empresa pública, onde (quase) toda a gente é familiar de alguém. No início, não percebi bem porque me olhavam mais ou menos de lado, mas depressa cheguei a uma conclusão: estou aqui a ocupar um lugar que poderia ser do filho, primo ou irmão deles. Independentemente de ser menos competente que eu.

Não vale a pena fazer de conta que esta pequenez e egoísmo não existe... O que importa é que nos saibamos adaptar a ela, mantendo os nossos princípios o mais que pudermos.

rascunhos disse...

Felizmente que ainda existem pessoas como a Leonor!

foryou disse...

Um dia vai deixar de ser assim, não vai?! Vai sim! Eu tenho de acreditar que vai... e tu também! E os nossos filhos e os filhos dos nossos filhos e os filhos dos filhos dos nossos filhos um dia vão fazer valer a pena que tenhamos acreditado!

Um bom ano para o teu filho, apesar do horário menos bom. Quem sabe um dia estará lá ele e ponha fim a essa injustiça.

Beijo a ambos

Anónimo disse...

Lindo!
Adorei este post, não apenas pela verdade inegável que contém, mas também pela forma maravilhosa como foi redigido.
Congratulo-to por seres assim... Se pelo menos houvesse mais gente com a mesma maneira de pensar.
Ainda assim, o teu legado, essa herança que transmites pela tua atitude, será exemplo em teu redor.

Deus te abençoe.

Anónimo disse...

Concordo plenamente contigo!