10/10/2006

Pinturas

Gosto muito de escrever. Mas gosto porquê? Não certamente pelo bater de teclas, nem pelos momentos de isolamento a que nunca me submeto quando o faço. Gosto porque falo do que me vai cá dentro; porque em primeiro lugar sou eu o receptor daquilo que escrevo. Gosto porque sinto tanto o que escrevo como escrevo do que sinto. E sinto muito, escrevendo pouco.

Sentimos tanta coisa que não sabemos explicar, que faria tentar escrever…

Assim sendo é bom quando encontramos alguem que seguramente sentiu como nós, um outro dia, num outro sítio. As cores que compõe os sentimentos estão todas na paleta da vida. É bom quando encontramos um pintor que com elas pintou a paisagem que neste momento estamos a ver.


“Teus olhos entristecem.
Nem ouves o que digo.
Dormem, sonham esquecem...
Não me ouves, e prossigo.
Digo o que já, de triste,
Te disse tanta vez...
Creio que nunca o ouviste
De tão tua que és.


Olhas-me de repente
De um distante impreciso
Com um olhar ausente.
Começas um sorriso.

Continuo a falar.
Continuas ouvindo
O que estás a pensar,
Já quase não sorrindo.


Até que neste ocioso
Sumir da tarde fútil,
Se esfolha silencioso
O teu sorriso inútil.”

Fernando Pessoa

4 comentários:

Anónimo disse...

obrigada amigo

deep disse...

Olá, Miguel!:))
Sê benvindo depois de tanto tempo! Neste momento, não vou poder ler o texto, porque não tarda tenho que ir trabalhar e ainda não jantei, mas prometo passar por cá mais tarde.
Fica bem.

izzolda disse...

Gosto muito de te ler de volta :)

Pedro Gamboa disse...

Bonita e sábia introdução a mais um poema do mestre.

Saudações.